sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Obsessão, um resumo



Ela me tomou mais de dois anos.



Desde aquele dia na praia, em janeiro de 1984, quando a vi pela primeira vez, sozinha, roçando o pé na areia, perto do mar, de tardinha. Nossos olhares se cruzaram e senti um sopro no peito. Um anjo me soprou.

Foi paixão daquelas de foder. Ou de não foder, porque jamais sequer a beijei na boca.

De noite, nós nos vimos de novo, dessa vez num bar à beira-mar. Tínhamos amigos comuns. Éramos a turma de Belo Horizonte.

Conversamos e ela me deu muita bola. Muita mesmo! Fiquei louco, né? Mas nunca havia namorado, até então, e talvez por isso não soubesse levar adiante a conversa até roubar um beijo, por exemplo, de alguém com quem se quisesse passar a vida toda, até ficar velhinho. Eu era muito cru.

Naquelas férias de verão começou minha obsessão por ela. A gente se encontrava na praia, um bando de malucos, e ficava em um trailer de sanduíches bem na areia, tomando cerveja, fumando maconha e ouvindo rock'n'roll.

Ela era loura, linda, pelos louros nas pernas, na barriguinha, nos braços, magrinha, mas muito gostosa. Alucinado, eu ficava caçando oportunidades pra ter conversas privativas com ela.

Num dos papos, pôr do sol, ela me perguntou se eu faria o terceiro científico no ano que se iniciava. Respondi que sim. E ela disse "eu também, que coincidência".  Interpretei o comentário, um tanto óbvio, já que tínhamos a mesma idade, como a comprovação da correspondência dos sentimentos.

Idiota? Provavelmente.

Voltei pra BH no dia do aniversário dela, que seria comemorado com um luau na praia, ao qual obviamente não fui. Em casa, fiquei contando os dias pra que ela chegasse.

Foram dias de paixonite adolescente braba. Ouvia no som do meu quarto sem parar discos do Pink Floyd, do Genesis e do King Crimson, principalmente, que tocavam constantemente no trailer da praia. E pensava nela, e me masturbava com a imagem dela, e chorava pela ausência dela.

Ela finalmente chegou. Soube disso porque o resto da turma, os meus amigos, também chegou e me contou. E um dos meus brothers me apunhalou sem saber, claro: disse que havia ficado com ela no fatídico dia do aniversário. E que também estava apaixonado.

Ela tinha um namorado de muitos anos em BH, que não pudera ir pra praia, e isso era um complicador pra esse meu brother. A loura linda havia dito a ele que não daria pra ficarem juntos porque ela não queria terminar com o tal namorado.

Haha. Ele se ferrou. Mas eu também.

Meu amigo sofreu por um tempo. Pouco tempo. E acabou esquecendo a belezura.

Não tive a mesma sorte. Haha. Ela me tomou mais de dois anos.

Obsessão mesmo. Não há outra palavra. Eu saía à noite à procura dela, depois de passar os dias tendo alucinações com ela. Eu via um casal na gente. Uma vida nova pra ela, pra mim, de mãos dadas, planejando o casamento, uma casa no mato.

Eu a queria não pra conversar sobre "nós" ou algo assim. Eu a queria pra vê-la e cumprimentá-la. E assim, quem sabe, passar subliminarmente a ideia de que estava desesperado de amor.  Mesmo que ela estivesse ao lado do namorado e da turma sorridente à qual eles pertenciam, um pessoal descolado, hippies inteligentes que não frequentavam exatamente os mesmos bares que eu.

Sofri muito. Chorei muito. Dois anos e pouco. Talvez três anos.

Fui me desligando dela aos poucos, dada a impossibilidade do romance, obviamente, e o fato de que outras mulheres surgiram na minha vida e me distraíram.

Mas foram dois anos e pouco, talvez três, de absoluta fidelidade a um sonho. E parte do sonho nunca soube disso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário